
Sempre fui uma pessoa de muita sorte. Começou quando nasci, pois enquanto todas as crianças tem apenas uma mãe, eu tive duas. Uma delas, a que me criou e me ensinou as artes da vida se chamava Rosa. Rosa em flor, em botão. Um dia, murchou e morreu, como todas as flores-rosa que também não vivem muito. Só o suficiente para espalhar a sua presença e deixar sua lembrança. Que vira saudade, como a que sinto agora.
Rosas são flores fortes mas sensíveis, têm espinhos e delicadeza. Minha mãe também era assim. Mulher à frente de seu tempo, pobre de dinheiro, rica em ética, idéias adiantadas criou e fez sua filha mulher. Se sou o que sou, devo a ela, apesar de ter-me deixado tão cedo. Partiu. Uns disseram-me que foi para o céu. Acho que sim, afinal, para onde vão as mães pobres, que só amaram, trabalharam, criaram filhos, choraram e venceram? Mães assim não tem pecados, não tem culpas e precisam de um lugar tranqüilo para descansar. Acho que esse lugar é o céu...
(Fotografia: Maria de Fátima Garcia)